terça-feira, 6 de janeiro de 2009

BENÇÃO DAS LÁGRIMAS

Bendita a lágrima em que se cristaliza
o acervo atroz de nossas dores
e se dilui o negro fel de nossas mágoas.

Bendita a lágrima a cuja tona flutuam farrapos sombrios de sonhos dourados e em cujo fundo vagueiam espectros tristonhos de esperanças mortas...

Bendita a lágrima dos que carpem a desdita de nascerem sem teto e choram
a desgraça de viverem sem pão.

Bendita a lágrima dos que jamais conheceram um afeto de mãe e nunca provaram um carinho de esposa.
Bendita a lágrima, desafogo amigo dos que são sós e consolo ardente
dos que são tristes.

Bendita a lágrima dos que põem sobre os ombros a cruz
de seu próximo e o ajudam a escalar o calvário da existência.

Bendita a lágrima dos que buscam, errantes, o calor de um afeto e somente encontram o frio do desprezo.

Bendita a lágrima dos que sofrem injustiças pelos ideais que defendem
e só colhem ingratidões
pelo bem que semeiam.

Bendita a lágrima que erige no cérebro um templo à Verdade e converte o coração num sacrário de Amor.

Bendita a lágrima que aflora, escaldante, nas noites do sofrimento e esplende como um sol nas manhãs da redenção.

Bendita, enfim, a lágrima, gota de luz
das auroras celestes e síntese terrena
do orvalho divino.

(Rubens C. Romanelli)





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