- Hei!... Olhe para mim, toque em minha mão, sinta o calor do meu corpo, estou aqui, eu existo, ainda resta um brilho em meu olhar.
Não sinta nojo de mim, nem sei de onde vim, só sei do frio nos bancos de praça, vendo os pés das pessoas passando sem me olhar.
Às vezes penso que sou um lixo posto fora, como um papel amassado e jogado na calçada.
Outro dia vi minha imagem na vitrine de uma loja...
Eu sou tão pequeno, não tenha medo;
- Sabe tio! Eu tenho tanta vontade de sentar em algum colo, destes que estão aí na praça, vazios e encostar minha cabeça em seu peito, ouvir seu coração batendo, beijar seu rosto, sentir suas mãos em meus cabelos, mas ninguém parece se importar com isso.
Esta manhã um vovô alimentava os pombos, corri até ele com os braços abertos, mas fui mandando embora, pois não queria que espantasse os bichinhos.
Nestas horas eu queria ser uma pombinha, talvez assim alguém gostasse de mim e eu não choraria todos os dias, pois é muito triste não ter o amor das pessoas.
Mas hoje não senti frio!...
O dia estava lindo, não chorei, pois apareceu um homem de roupa branca, barba, com a bondade no olhar, pegou minha mão e disse-me:
- Vim te buscar filho!... Você é muito importante para todos nós.
Fiquei muito feliz ao ver que estava flutuando e subindo junto com ele, sem fome, sem frio e certo de ser amado.
E lá embaixo ficou aquele menino que ninguém queria, inerte, caído, mas com um sorriso nos lábios certo de nunca mais sentir frio, nem fome e de ter todo o amor do mundo para sempre.
(Eudir Nunes)
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