sexta-feira, 24 de abril de 2009

COMO SE EDUCA SEM VIOLÊNCIA


O Dr. Arun Gandhi, neto de Mahatma Gandhi e fundador do MK Gandhi Institute, contou a seguinte história sobre a vida sem violência, na forma da habilidade de seus pais, em uma palestra proferida em junho de 2002 na Universidade de Porto Rico.

"Eu tinha 16 anos e vivia com meus pais, na instituição que meu avô havia fundado, e que ficava a 18 milhas da cidade de Durban, na África do Sul.
Vivíamos no interior,em meio aos canaviais, e não tínhamos vizinhos, por isso minhas irmãs e eu sempre ficávamos entusiasmados com a possibilidade de ir até a cidade para visitar os amigos ou ir ao cinema.
Certo dia meu pai pediu-me que o levasse até a cidade, onde participaria de uma conferência durante o dia todo.
Eu fiquei radiante com esta oportunidade.
Como íamos até a cidade, minha mãe me deu uma lista de coisas que precisava do supermercado e, como passaríamos o dia todo, meu pai me pediu que tratasse de alguns assuntos pendentes, como levar o carro à oficina.

Quando me despedi de meu pai ele me disse:

"Nos vemos aqui, às 17 horas, e voltaremos para casa juntos".

Depois de cumprir todas as tarefas, fui até o cinema mais próximo.
Distraí-me tanto com o filme (um filme duplo de John Wayne) que esqueci da hora.

Quando me dei conta eram 17 h 30. Corri até a oficina, peguei o carro e apressei-me a buscar meu pai.

Eram quase 6 horas.

Ele me perguntou ansioso:

"Porque chegou tão tarde?"

Eu me sentia mal pelo ocorrido, e não tive coragem de dizer
que estava vendo um filme de John Wayne.
Então, lhe disse que o carro não ficara pronto, e que tivera que esperar.
O que eu não sabia era que ele já havia telefonado para a oficina.

Ao perceber que eu estava mentindo, disse-me:

"Algo não está certo no modo como o tenho criado,
porque você não teve a coragem de me dizer a verdade.

Vou refletir sobre o que fiz de errado a você.

Caminharei as 18 milhas até nossa casa para pensar sobre isso".

Assim, vestido em suas melhores roupas e calçando sapatos elegantes,
começou a caminhar para casa pela estrada de terra sem iluminação.

Não pude deixá-lo sozinho... guiei por 5 horas e meia atrás dele...
vendo meu pai sofrer por causa de uma mentira estúpida que eu havia dito.

Decidi ali mesmo que nunca mais mentiria.

Muitas vezes me lembro deste episódio e penso:

"Se ele tivesse me castigado da maneira como nós castigamos nossos filhos,
será que teria aprendido a lição?"

Não, não creio.
Teria sofrido o castigo e continuaria fazendo o mesmo.

Mas esta ação não-violenta foi tão forte que ficou impressa na memória
como se fosse ontem.

Este é o poder da vida sem violência".

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