quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

A CADEIRA DE RODAS


Uma família de classe média estava viajando de férias, após um ano de serviço e a devida programação para aquela ocasião.
Entretanto, o casal de filhos adolescentes reclamava, a curto espaço de tempo, de várias coisas que o veículo não possuía.
Dizia um deles:

— Papai, se este carro tivesse ar condicionado, seria bem mais fácil tolerar essa viagem cansativa.
Está fazendo muito calor, mas, se deixamos o vidro aberto, o vento incomoda demais.

Logo depois, era o outro que expunha as suas queixas:

— Nem ao menos temos um rádio bom para ouvirmos música.
Desse jeito, parece que a viagem demora um século!

O pai que experimentara a vida pobre enquanto criança e na juventude, nada dizia, esperando a ocasião propícia para intervir.
Passado um curto espaço de tempo, retornava o outro adolescente a queixar-se:

— Se este carro além de ar condicionado, fosse um pouco maior, viajaríamos mais confortavelmente, mamãe.

A esposa olhava para o marido que sinalizava discretamente, pedindo que não respondesse às reclamações.
Rodavam mais alguns quilômetros e lá vinha outra crítica:

— Tive que trazer uma mala menor porque o porta-malas deste carro é pequeno.
Veja se troca de automóvel no final do ano, papai.

O mesmo paciencioso silêncio reinava por parte dos pais dos reclamantes, que retornavam às queixas:

— Será que não dá para você colocar um DVD neste carro?
Dessa maneira poderíamos viajar assistindo a filmes e não sentiríamos o tempo passar.

Ao cruzar um trecho da rodovia que cortava uma pequena cidade onde era obrigatório diminuir a velocidade, o pai viu uma cena muito triste:
uma senhora de idade empurrava uma filha deficiente física e mental em uma cadeira de rodas por uma pequena ladeira que margeava a rodovia.
Ali estava a oportunidade de ouro para a lição que vinha segurando na ponta da língua.
Chamou a atenção dos jovens para aquela cena lamentável e disse:
— Vocês dois que só sabem reclamar do que possuímos, ganho de maneira honesta, talvez preferissem estar sentados naquela cadeira de rodas como aquela pobre moça, a estarem mal acomodados em nosso carro, não é mesmo?
A cadeira de rodas não possui rádio, ar condicionado, DVD, porta-malas.
A cadeira de rodas possui uma pessoa que sofre sobre ela e que daria tudo para estar no lugar de um de vocês!

A observação do pai caiu como uma profunda lição sobre os dois reclamantes que, após se entreolharem, mergulharam num profundo silêncio, acompanhando com o olhar espantado para a cadeira de rodas que se afastava lentamente do veículo, perdendo-se nas curvas do caminho.

“Não reclames!

Agradece a Deus a oportunidade de ser aquele que exemplifica, entre lágrimas, o que os outros fruem, por enquanto, entre sorrisos.

O dia de todos sempre chega, convidando, uma a uma, as criaturas à reflexão e ao fenômeno de amadurecimento.”
( Joanna de Ângelis)

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