quarta-feira, 7 de outubro de 2009

MILHO DE PIPOCA...



"Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho para sempre”


Assim acontece com a gente.

As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo.

Quem não passa pelo fogo, fica do mesmo jeito a vida inteira.

São pessoas de uma mesmice e uma dureza assombrosa.


Só que elas não percebem e acham que seu jeito de ser é o melhor jeito de ser.


Mas, de repente, vem o fogo.


O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos: a dor.


Pode ser fogo de fora:

perder um amor, perder um filho, o pai, a mãe, perder o emprego ou ficar pobre.


Pode ser fogo de dentro:

pânico, medo, ansiedade, depressão ou ofrimento, cujas causas ignoramos.


Há sempre o recurso do remédio: apagar o fogo!

Sem fogo o sofrimento diminui. Com isso, a possibilidade da grande transformação também.


Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro cada vez mais quente, pensa que sua hora chegou: vai morrer.


Dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar um destino

diferente para si.
Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada para ela.


A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz.

Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo a grande transformação acontece: BUM!


E ela aparece como uma outra coisa completamente diferente,

algo que ela mesma nunca havia sonhado.


Bom, mas ainda temos o piruá, que é o milho de pipoca que se recusa a estourar.


São como aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar.


Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem.


A presunção e o medo são a dura casca do milho que não estoura.

No entanto, o destino delas é triste, já que ficarão duras a vida inteira.


Não vão se transformar na flor branca, macia e nutritiva.


Não vão dar alegria para ninguém.



(Extraído do livro "O amor que acende a lua" de Rubem Alves)

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