Melindre tem várias definições.
Pode ser definido como amabilidade, delicadeza no trato, recato, pudor.
No entanto, é quase certo que ao ser utilizado pelas pessoas, o conceito que expressa é de facilidade de se magoar, de se ofender, susceptibilidade.
Nesse sentido, tem sido comum a sua invocação, nas relações humanas.
As menores atitudes de um funcionário, de um amigo recebem a adjetivação imediata.
Por isso, amizades se diluem, desentendimentos acontecem,
duplicando mágoas de um e de outro lado.
Nas várias facetas do trabalho voluntário, melindre tem sido utilizado para justificar defecções, traições, desajustes e quebra moral de contratos de voluntariado.
Que ele existe, é verdade.
Mas que as pessoas se dão, por vezes, um valor maior do que verdadeiramente possuem e aguardam tratamento especial, também é verdade.
No entanto, um outro lado da questão se apresenta e tem sido esquecido, quase sempre.
Se melindre é a manifestação do orgulho ferido, não menos verdade que medra, entre as criaturas, muita falta de tato, delicadeza e gentileza.
Em nome de uma falsa caridade, de expressar a verdade, amigos e companheiros de trabalho se permitem lançar ao rosto do outro tudo que pensam.
E não medem palavras nas suas expressões.
É como se tomassem de pedras e as jogassem, sem piedade.
E o que esperam é que o outro aceite tudo.
Quando o agredido se insurge, quando toma uma atitude, quando fala de respeito, é tomado como aquele que se melindra.
Contudo, em nenhum momento o agressor, aquele que foi indelicado e feroz, se desculpa.
Não, ele está certo. O outro é que é portador de muito orgulho.
Nesse diapasão, vidas honradas de trabalho têm sido literalmente jogadas no lixo.
Servidores de anos têm tido seus esforços depreciados, como se fossem coisa alguma.
E o que critica maldosamente, o que aponta os erros mínimos é o herói, a pessoa correta. Refaçamos os passos enquanto é tempo. Antes de destruirmos valores afetivos preciosos.
Antes de atacarmos instituições centenárias com folha irrepreensível de dedicação e serviço à comunidade.
Examinemos quantas vezes a culpa nos compete.
Quantas vezes teremos sido nós os provocadores do afastamento de pessoas de nosso convívio.
Ou da instituição a que prestamos serviço.
Da nossa família, da nossa esfera de amizades.
Recordamos que, certa vez, em reunião de trabalho, um voluntário interrompeu de forma agressiva a fala do coordenador.
Reclamou e reclamou, ferindo e humilhando-o frente aos demais.
O ferido se calou, dolorido.
Depois de alguns dias, procurou o agressor em particular.
A sós com ele, expressou a sua mágoa, com o sincero objetivo de modificar a emoção ferida e apaziguar seu mundo íntimo.
O interlocutor, em vez de reconhecer a indelicadeza, reverteu a situação e deu o diagnóstico impiedoso:
não houvera agressão de sua parte.
O outro é que se melindrara.
Pensemos nisso.
Será que a constatação quase diária de melindre nos outros não se tornou uma válvula de escape para nós? Uma desculpa para a nossa rispidez quotidiana, o nosso relaxamento no trato com o semelhante?
Quem se melindra, deve trabalhar para se tornar menos susceptível.
Mas quem provoca o melindre não pode se esquecer da lei de caridade, da afabilidade e da doçura preconizados por Jesus:
"Bem-aventurados os mansos e pacíficos."
(Desconheço o autor)
Um comentário:
Errar é humano, persistir é uma grande tolice. Todos os dias devemos exercitar o perdão, a solidariedade e humildade. Parabéns pela colocação de Joanna de Ângelis
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