sexta-feira, 1 de julho de 2011

EU, O MENINO E O CACHORRO...


 
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EU, O MENINO E O CACHORRO...

E eu só reclamava da vida...

reclamava da noite porque eu não dormia,
 reclamava do dia porque eu sofria, 
reclamava do frio que me gelava a alma,
                              reclamava do calor que me atirava ao desânimo.

Para tudo e para todos eu tinha uma resposta,
 para a minha derrota eu sempre tinha um culpado, 
para o meu desamor sempre tinha um "alguém",
 para tudo uma reclamação, eu era o próprio azedume.

Ai de quem me criticasse,
 que apontasse o erro que eu não enxergava,
 para tudo tinha que haver um culpado, 
eu era a vítima do sistema, das pessoas, 
do mundo, eu sempre fui traído, enganado, sofrido...
Carregava aquela cruz pesada de ódio, 
e eu só reclamava da vida,
seja de noite, seja de dia.

Até quem dia, um menino, desses meninos de rua, 
me pediu uma ajuda, e eu já estava pronto para ofendê-lo,
 quando ele pegou na minha mão e arrastou-me,
 se é que um menino tão pequeno teria essa força.

No canto da rua ele me mostrou um cachorro muito sujo,
 que estava com a pata como que quebrada e cheio de feridas.

O menino puxou a minha mão e fez chegar perto do cachorro.

Ele olhava pra mim e depois para o cachorro, 
e falou numa voz que eu não consigo esquecer:

- Moço, sara ele pra mim! é o meu melhor amigo.

Não sei porque e nem quero saber, 
mas eu não aguentei e chorei...

Chorei como criança, como quem abre uma torneira, 
como se uma porta que estava fechada há muito tempo
 dentro de mim, se abrisse escancaradamente...

O menino não entendeu o meu choro e perguntou:

- Ele vai morrer moço? É grave assim...
Despertei do meu choro e agarrei aquele cachorro com muito cuidado.

Levei-o até a minha casa, poucos quarteirões dali,
 e tratei daquele cachorro como se fosse um filho,
 e o menino, que vivia pelas ruas, foi ficando,
 e cuidou de mim, curou minhas feridas, 
antes mesmo de eu curar as feridas do cachorro.
 
Hoje, não reclamo mais de nada,
 tudo para mim tem um sentido, 
tudo é perfeito, até o que dá errado.

Faz 16 anos que o menino de rua pegou na minha mão,
 mudou a minha vida, transformou esse ser.

Mostrou-me o caminho do amor, 
amor que restaura, cura, seca feridas,
 renova, traz esperança,
 e esperança é o nome do amor.

E esse menino, que hoje me chama de pai, 
destranca portas e janelas da minha alma todos os dias, 
quando segura na minha mão e me agradece
 por cada coisa tão pequena, 
os banhos, as roupas, a comida, a escola, a adoção, 
coisas que muita gente tem e não dá nenhum valor,
ele me recompensa com carinho e dedicação.
 
Hoje é a sua formatura, e eu nem sei o que dizer, 
sou grato a Deus por ele entrar na minha vida, 
por quebrantar meu coração,
e não largar mais a minha mão.

Hoje eu bendigo a vida.

Valorize a sua vida, preencha-a com o amor.


(Paulo Roberto Gaefke)

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